Um dos grandes acontecimentos do mercado editorial em 2018, a reativação do selo feminista Rosa dos Tempos completa um ano em janeiro. Neste período foram lançados títulos de seis autoras que se dedicam a pesquisar e analisar o empoderamento feminino, entre elas Marcia Tiburi, Maya Angelou e bell hooks. Para 2019 já estão programados “Eu, tituba, a bruxa negra de Salém”, da guadalupenha Maryse Condé, agraciada com o Nobel alternativo no ano passado, “Clássicas do pensamento social: mulheres e feminismos no século XIX”, que reúne textos de 8 autoras de diversos países que produziram interpretações sociológicas do mundo e de questões de gênero, livros de Betty Friedan e outro de bel hooks. Previsto para junho, o livro de Maryse parte do acontecimento real do julgamento das bruxas de Salém para criar um romance histórico inspirado na vida da escrava Tituba, acusada de bruxaria na pequena cidade de Massachusetts.
O retorno da Rosa dos Tempos se deu no momento em que se intensificaram protestos e reivindicações femininas em todo o mundo. No Brasil, as mulheres tomaram conta do cenário político liderando o emblemático movimento #EleNão e denunciaram série de episódios contra casos de abuso sexual. O selo foi fundado em 1990 por Rose Marie Muraro e Ruth Escobar, lançando no Brasil clássicos do movimento feminista brasileiro e mundial.
Relembre os títulos publicados pela Rosa em 2018:
Feminismo em comum, de Márcia Tiburi
É preciso retirar o feminismo da seara das polêmicas infindáveis e enfrentá-lo como potência transformadora. Com este mote, a filósofa Marcia Tiburi apresenta questões, conceitos e desafios que configuram o movimento como a “chave de acesso a um mundo melhor” no livro “Feminismo em comum: para todas, todes e todos”, lançamento de 2018 que marcou a volta da editora Rosa dos Tempos. Um dos pontos cruciais desta virada seria a capacidade de pensar dialeticamente o feminismo, abraçando o diálogo e a diversidade. “O que chamamos de feminismo é feito de presenças complexas, de corpos diversos, desejos variados que têm um único ponto de convergência: defender uma vida mais justa a partir de uma crítica do patriarcado”, afirma Marcia.
Mamãe & Eu & Mamãe, de Maya Angelou
Na autobiografia “Mamãe & Eu & Mamãe”, a poeta e ativista Maya Angelou fala sobre sua reconciliação com a mãe e como aprendeu com ela a enfrentar os desafios da vida e da carreira de dançarina, cantora e escritora. O livro, o último lançado por Maya, é uma emocionante jornada de mãe e filha em busca de reconciliação, assim como uma reveladora narrativa de amor e cura. Na orelha, a professora da Faculdade de Educação da UFRJ e coordenadora do grupo Intelectuais Negras, Giovana Xavier, define a obra como um clássico, representativo do universo no qual mulheres negras são, do começo ao fim, autoras, sujeitas e donas de suas próprias histórias.
Terra das mulheres, de Charlotte Perkins Gilman
Publicado em 1915, Terra das Mulheres inspirou o criador de Mulher-Maravilha e suas amazonas, e revelou como seria uma sociedade composta unicamente por cidadãs através do olhar de Charlotte Perkins Gilman, autora de O papel de parede amarelo. O livro acompanha três exploradores — Van, o narrador; o doce Jeff; e Terry, o machão — e suas considerações e devaneios sobre o país, um lugar organizado ao extremo, frutífero e sem guerra ou conflitos.
O mito da beleza, de Naomi Wolf
Clássico feminista dos anos 1990 que voltou às livrarias este ano pela Rosa dos Tempos, “O mito da beleza” é um manifesto político de libertação do corpo feminino. Naomi Wolf, baseada em inúmeras pesquisas e dados estatísticos, apresenta questões cruciais para as mulheres. Como podemos ser livres se somos prisioneiras de um ideal de corpo perfeito? Ao revelar a crueldade do mito do beleza, Wolf demonstra que a verdadeira luta feminista acontece entre o prazer e a dor, a liberdade e obrigação, a felicidade e o sofrimento.
Força é a nova beleza, de Kate T. Parker
Mãe de duas meninas, a fotógrafa Kate T. Parker percebeu que as fotos mais impressionantes de suas filhas com as amigas eram sempre aquelas em que elas estavam sendo elas mesmas. Descabeladas, sujas, sem qualquer preocupação com poses, roupas ou cabelos. Da reflexão surgiu o projeto “Força é a nova beleza”. A obra reúne 175 fotos e depoimentos de meninas de 4 a 18 anos de diversas partes dos Estados Unidos. Destemidas, confiantes e orgulhosas, elas deixam claro que a máxima “lugar de mulher é onde ela quiser” veio para ficar nesta geração.
O feminismo é para todo mundo, de bell hooks
Intelectual e teórica feminista desde os anos 1970, bell hooks (assim mesmo, com minúsculas) vem, há anos, tentando desmistificar os conceitos errados relacionados ao feminismo nas conversas com quem encontra pela frente. Para facilitar, colocou tudo neste “O feminismo é para todo mundo”, escrito em 2000 e atualíssimo. No texto, ela elenca respostas para uma série de perguntas rotineiras sobre o feminismo, além de falar sobre o movimento sob a perspectiva das mulheres negras. hooks explica que o classismo e o racismo não podem ser deixados de lado na construção do feminismo. Mais do que uma defesa da igualdade entre homens e mulheres, para ela o feminismo pretende acabar com o sexismo, a exploração sexista e a opressão.