“Não existe vida sem diálogo. E, na maior parte do mundo, o diálogo é substituído hoje em dia pela polêmica, a linguagem da eficácia. O século xx é, entre nós, o século da polêmica e do insulto. Ela ocupa entre as nações e os indivíduos, e até mesmo no nível das disciplinas outrora desinteressadas, o lugar tradicionalmente ocupado pelo diálogo refletido. Dia e noite, milhares de vozes, cada uma delas entregue a um tumultuado monólogo, derramam sobre os povos uma torrente de palavras ludibriadoras. Mas qual é o mecanismo da polêmica? Ela consiste em considerar o adversário como inimigo, em simplificá-lo, consequentemente, e em se recusar a vê-lo. Naquele que insulto, deixo de reconhecer a cor do olhar. Graças à polêmica, não vivemos mais num mundo de homens, mas num mundo de silhuetas”.
As palavras proferidas pelo ator Tony Ramos na noite do último dia 20 de agosto, no Teatro Anchieta, em São Paulo, soam um tanto atuais, mas foram originalmente escritas pelo escritor Albert Camus para conferências que ele apresentou em sua visita ao Brasil, em 1949. A convite da filha do escritor Catherine, o ator brasileiro leu a tradução até então inédita do escrito ‘O tempo dos assassinos’ na abertura do ciclo ‘Camus: Um Estrangeiro no Brasil’. Durante o evento, a editora Record lançou a coletânea ‘Camus, o viajante’, que inclui integra de ‘O tempo dos assassinos’. O ciclo, com curadoria do crítico Manuel da Costa Pinto, inclui ainda exposição de fotos dos acervos da família Camus e de Oswald de Andrade, na Casa das Rosas, uma mostra de filmes e show do álbum ‘Sambas do absurdo’, lançado pelo trio Juçara Marçal, Gui Amabis e Rodrigo Campos.
“Li Camus no início de minha carreira. Estava sempre em busca de grandes histórias e encontrei O Estrangeiro. Me emocionei. Entenda: nem todos poderão ter ou tiveram a mesma sensação. Mas, para mim, foi definitivo”, disse Tony Ramos.
Confira a programação completa aqui.