Em Will, livro de memórias lançado no Brasil pela Editora BestSeller, Will Smith relembra os bastidores de Ali. O filme, que rendeu sua primeira indicação ao Oscar, exigiu do autor dedicação para convencer no papel Muhammad Ali, maior boxeador de todos os tempos, e atitude para punir exemplarmente um caso de racismo ocorrido no set do filme. Neste domingo (9), Smith pode levar pela primeira vez na carreira um Globo de Ouro por sua atuação em ‘King Richard: Criando campeãs’.
Se em King Richard tinha que parecer mais acabado para viver o pai das tenistas multicampeãs Serena e Venus Williams, em Ali foi o oposto. Will Smith treinou durante cinco meses com lutadores de boxe da vida real e teve a oportunidade de conhecer Nelson Mandela.
Nenhuma das pancadas que levou como sparring, no entanto, foi mais violenta do que o caso de racismo no set de filmagem em Moçambique, descrito em Will, no capítulo Propósito. Um dos integrantes da equipe local de assistentes de produção, por ter deixado xixi respingar fora do vaso, foi agredido por um sul-africano branco responsável pela limpeza e manutenção do set.
Ao saber do ocorrido, um dos melhores amigos de Will, integrante de sua equipe, partiu para cima do agressor: “A SUA MÃE É A PORRA DE UM VADIA FILHA DA PUTA! ISSO VAI FAZER MINHA CABEÇA SER ENFIADA NA PRIVADA?”.
Numa reunião com o chefe da produção e o chefe dos sul-africanos, que ameaçou retirar a equipe de cem sul-africanos caso o agressor fosse demitido, o que poderia interromper a gravação da produção milionária, Will ficou do lado dos moçambicanos, como escreve em Will.
“… um pensamento me acertou feito um cruzado de direita vindo dos céus: isso é Ali. Esse momento é o objetivo de tudo. Muhammad Ali desistiu de tudo justamente por esse propósito. Foda-se o filme. Ali jamais iria querer que o filme dele chegasse às telas às custas da cabeça de um garoto negro de 17 anos enfiada na privada.
Eu fui direto
– Então todos vocês, filhos da puta, podem ir pra porra da casa de vocês. Vou gastar cada centavo do meu pagamento pra trazer uma equipe dos Estados Unidos. Mas o que a gente não vai aceitar é que a cabeça de alguém seja enfiada numa privada num filme sobre Muhammad Ali. Vá embora!”
O ator também é cotado para concorrer ao Oscar, cujos finalistas serão anunciados em 8 de fevereiro.