Obra de Nise da Silveira sobre Jung é lançada no Rio

11/08/2023 1300 visualizações

Lançamento acontece dia 12, às 15h, na Casa das Palmeiras, onde o grupo de estudos sobre psiquiatra fundado por Nise ainda é ativo. Clássico da escola jungiana no Brasil, livro ficou fora do mercado por mais de quinze anos. Jung: vida e obra (Ed. Paz & Terra) foi responsável por introduzir gerações de brasileiros às teorias de C.G. Jung

 Jung: vida e obra, escrito pela revolucionária psiquiatra Nise da Silveira, retorna ao mercado editorial pela Editora Paz & Terra depois de mais de 15 anos fora de circulação. O título, publicado inicialmente em 1968, apresenta os principais conceitos da psicologia analítica, ao mesmo tempo que narra os mais importantes acontecimentos da vida pessoal de C.G. Jung. Através desse panorama teórico e biográfico, o livro se confirmou como um clássico imprescindível para o pensamento psicanalítico no Brasil. A nova edição traz na arte da guarda mandalas dos clientes da Casa das   Palmeiras, clínica de reabilitação psiquiátrica fundada por Nise para tratar em liberdade pacientes egressos do Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro.

Nise da Silveira, médica psiquiatra, foi a principal agente pela difusão da teoria psicanalista analítica, ou junguiana, no Brasil. Foi nos livros de psicologia do mestre Jung que ela encontrou os fundamentos para seu método de investigação, que revolucionou o tratamento psiquiátrico no país: a terapia ocupacional baseada nas expressões artísticas individuais, teoria ligada diretamente à psicanálise analítica de Jung.

Ao adotar o novo método, ela começou a se corresponder com o suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), psiquiatra e fundador da psicologia analítica, que desenvolveu conceitos como personalidade extro e introvertida, arquétipos e o inconsciente coletivo. Em novembro de 1954, Nise da Silveira escreveu uma carta a C. G. Jung:

“Mestre, no centro psiquiátrico do Rio de Janeiro, há, ao lado de outros setores de atividade do serviço de ocupação terapêutica, um ateliê onde os doentes desenham e pintam na mais completa liberdade. […] E, assim, imagens primordiais emergem nessas pinturas, trazendo uma empírica e convincente demonstração da psicologia analítica.”

Graças a esse primeiro contato corajoso se iniciou uma profícua troca intelectual e afetiva entre duas grandes mentes do século XX.

SOBRE A CASA DAS PALMEIRAS

Primeira instituição psiquiátrica brasileira a se dedicar a manter os pacientes longe dos hospitais, a Casa das Palmeiras foi fundada em 1956 por Nise da Silveira como uma instituição sem fins lucrativos com uma dupla finalidade: evitar a reinternação dos egressos do Centro Psiquiátrico Pedro II e aplicar um novo método terapêutico, focando no processo criativo e afetivo dos pacientes.

A Casa não segue padrões convencionais da Psiquiatria. É um território terapêutico de relações humanas, de convívio afetivo de criatividade, de pesquisa e ciência, onde os clientes têm a oportunidade de realizarem seus trabalhos expressivos com espontaneidade e acompanhamento terapêutico, o que lhes facilita a reinserção social. Os trabalhos são assinados, datados e arquivados para serem estudados em série.

Na instituição, Nise fundou o Grupo de Estudos C.G. Jung. Este é o núcleo de pesquisa que aprofunda os estudos das séries de imagens do inconsciente, produzidas livremente pelos clientes da Casa. Esses estudos e pesquisa são fundamentados na psicologia analítica de Jung e seguem a metodologia do Archiv for Research in Archetypal Symbolism – (ARAS), o mesmo sistema de catalogação de imagens adotado pelo Instituto C. G. Jung de Zurique. Localizada em Botafogo, a casa ainda é ativa e atende a 35 clientes, sua capacidade máxima.

“A Casa das Palmeiras é um pequeno território livre, onde não há pressões geradoras de angústia, nem exigências superiores às possibilidades de resposta de seu frequentadores. {…} Portas e janelas estão sempre abertas na Casa das Palmeiras.” Nise da Silveira

SOBRE A AUTORA

Nise da Silveira (Maceió/AL, 1905 – Rio de Janeiro/RJ, 1999) foi médica psiquiatra e responsável por uma revolução no tratamento de pessoas em sofrimento mental. Foi a única mulher a se formar em medicina em uma turma de mais de 150 homens, na Bahia, em 1926.

Ao mudar-se para o Rio de Janeiro, na década de 1930, atuou no Hospital Nacional dos Alienados, sendo denunciada e presa, durante dezoito meses, pela ditadura Vargas, por possuir livros marxistas. Apenas em 1944, após o fim do regime varguista, ela retomou ao serviço público, dessa vez, no Hospital Psiquiátrico Engenho de Dentro – hoje, Instituto Municipal Nise da Silveira.

Foi a primeira pessoa no Brasil a introduzir a terapia ocupacional baseada nas expressões artísticas individuais, teoria ligada diretamente à psicanálise analítica de C. G. Jung. Apesar de inicialmente ser boicotada pela direção do hospital – que lhe ofereceu o espaço do almoxarifado para sua seção de arteterapia –, conseguiu demonstrar como sua visão terapêutica era – e ainda é – revolucionária, tanto para o entendimento da pisque humana quanto para o tratamento e a inclusão daqueles julgados à margem da “normalidade”.

Nise da Silveira foi responsável pela criação, em 1952, do Museu de Imagens do Inconsciente e, em 1955, do Grupo de Estudos de C. G. Jung e da Casa das Palmeiras, fundação voltada ao tratamento de egressos de instituições psiquiátricas.

Dentre os diversos prêmios e reconhecimentos que lhe foram concedidos estão a Ordem de Rio Branco, a Medalha Chico Mendes e o título de Heroína da Pátria. Faleceu aos 94 anos, deixando um legado de estudo, luta e amor, e permanecendo como inspiração para todas e todos que desejam viver em um mundo mais justo e inclusivo.

SOBRE O EVENTO

Quando: sábado, 12 de agosto às 15h

Onde: Casa das Palmeiras, Rua Sorocaba 800, Botafogo, RJ