Avanço de ideias conservadoras, aumento da desigualdade, desemprego, terrorismo. Esses são alguns dos desafios que o mais jovem presidente da França vem enfrentando desde que assumiu o mandato em maio deste ano. Ao se candidatar, Emmanuel Macron decidiu não se enquadrar como representante da direita ou da esquerda por acreditar que esta separação é ineficaz diante dos problemas atuais de seu país e do mundo. Nascia assim o En marche!, com as iniciais de seu fundador e a missão de transformar a política francesa.
“Revolução”, que chega ao Brasil pela Editora BestSeller, descreve as bases da nova força política criada por Macron, suas visões, inspirações e vontades. Dividido em 16 capítulos, o livro traça a trajetória do político para além da vida pública, lembrando das influências de sua família — da avó, ele herdou o gosto pela literatura e pela filosofia—, e o início do relacionamento com a professora Brigitte Trogneux, 24 anos mais velha.
As medidas que agora vêm tomando forma no governo são descritas no livro, como o enxugamento dos gastos públicos, que poderá chegar até 16 bilhões em 2018, e a controversa diminuição de impostos que incidem sobre as fortunas. E ações mais populares como a proposta de redução da contribuição social para assalariados e autônomos.
O livro se dedica também a desmistificar os discursos que são construídos a partir de uma suposta fragilidade nacional, sobretudo com relação ao terrorismo. Macron chama atenção ainda para a possibilidade de o partido de extrema-direita Frente Nacional, de Marine Le Pen, acabar assumindo o poder em cinco ou dez anos:
“Conheço muitos franceses que escolheram votar a favor dela, não por convicção, mas justamente para protestar contra a ordem estabelecida que os esqueceu ou por contrariedade. É preciso voltar a falar com eles sobre suas vidas. Dar um sentido, uma visão. Combater esse partido que manipula a raiva que sentem.”
O jornalista Éric Fottorino entrevistou Macron algumas vezes para o jornal Le un. Em “Macron por Macron”, ele reuniu a íntegra das conversas, entre elas uma inédita. Em tom informal, o presidente francês se posiciona sobre temas como democracia, corporativismo, crise migratória, soberania e literatura. “Estaria mentindo se afirmasse que leio todos os dias. Mas o que me deixa tranquilo é que não passo um dia sem sentir falta de ler”, conta.
Macron afirma que a falta de um rei afeta o funcionamento da política na França, critica a ausência de uma posição comum da União Europeia em relação à crise migratória e ressalta a importância do fortalecimento do bloco:
“A França não vencerá o Google e o Facebook; a Europa, sim. Pelo menos, ela irá regulamentá-los. A Europa pode ser um crítico protagonista frente à China e aos Estados Unidos. Se nós somos a Europa, podemos nos defender do dumping do aço chinês, para proteger nossa população e suas empresas. Esse paradoxo, que consiste em opor a soberania e a Europa, também é um trauma francês”, opina.
Em um dos textos que compõem o livro, Fottorino investiga as promessas do “macronismo” e argumenta que Macron pode representar um desejo essencial do povo francês de dar fim à alternância dos velhos partidos que se sucedem com seus atestados de incapacidades e golpes. No entanto, uma pesquisa realizada em agosto revelou que 62% dos franceses estão insatisfeitos com o novo presidente, ainda que estejam de acordo com suas prioridades de gestão.
“Revolução” e “Macron por Macron” chegam às livrarias no fim de outubro. Leia capítulo da obra neste link.
Erlangueiro
Imagine a decepção que ele vai ter ao saber que a Editora Record fica enrolando pra reimprimir obras do grande Michel Houellebecq, o autor nº 1 da França. Livros como “Plataforma” e “A Possibilidade de Uma Ilha” passam de R$ 100 em sebos. Enquanto isso, a Record e seus editores são blasé demais para responder os pobres fãs.