Criador do termo “geração do quarto” alerta pais

7/03/2023 1540 visualizações

Personagens da novela Travessia, Isa (Duda Santos), Monteiro (Ailton Graça) e Laís (Indira Nascimento) debatem sobre a grave situação que a família enfrenta ao ter que lidar com um caso de dependência grave: o caçula Theo (Ricardo Silva) está viciado em telas. O diagnóstico, informa Monteiro, é comum aos jovens da “geração do quarto”. O termo utilizado na conversa em torno da mesa de jantar e a abordagem foram criados pelo educador Hugo Monteiro Ferreira e dá nome ao seu livro lançado pela Editora Record.

O autor de ‘A geração do quarto: Quando crianças e adolescentes nos ensinam a amar’, um dos grandes especialistas em saúde mental de jovens, foi consultor da Unicef no projeto que resultou no Pode falar, espécie de centro de valorização da vida voltado para adolescentes e pessoas no início da idade adulta. “Quando atravessado pelo sofrimento psíquico, o quarto, que era refúgio, vira esconderijo”, alerta Monteiro Ferreira.

Confira a entrevista com o autor, que alerta para sinais como o uso de roupas de mangas compridas mesmo quando está calor.

1. O livro ‘A geração do quarto’ é resultado de uma ampla pesquisa que você desenvolveu. O termo que dá nome ao livro surgiu em que momento? Foi no decorrer da pesquisa?

Hugo Monteiro Ferreira: O termo surgiu antes da pesquisa propriamente dita. A emergência desse conceito veio na medida em que ouvi mães e pais que me traziam a inquietação de verem seus filhos e filhas dentro dos quartos, numa profunda experiência de isolamento e visível sofrimento psíquico. O termo, assim como uso e no contexto em que aplico, é uma criação minha.

2. Por que o você considera que o espaço privado do quarto representa tão bem essa geração?

HMF: Entendo que o quarto é um canto da casa no qual tentamos viver uma experiência de introspecção sadia, numa espécie de recolhimento para reflexões e silêncios, intimidades e despojamentos. No entanto, apesar de ser esse espaço, quando atravessado pelo sofrimento psíquico, aquilo que era refúgio vira esconderijo, local para esconder a dor, não mostrar o sofrimento, não deixar evidente que a vulnerabilidade reina.

3. A quais tipos de sinais os pais devem estar atentos?

HMF: Os pais e as mães devem ficar atentos ao comportamento de modo geral, mas alguns itens me parecem chamar atenção: a) período de estada dentro do quarto; b) dificuldade de relacionamento dentro de casa; c) uso excessivo das redes digitais; d) uso de roupas quentes que cobrem os braços, mesmo em situações de temperaturas altas; e) trocar noite pelo dia; f) dificuldade de expressar emoções e sentimentos com consciência; g) sinais de pânico; sentimentos depressivos; ideias suicidas; h) tempo excessivo no banho; i) reclamações da convivência no ambiente escolar (bullying, ciberbullying).

4. Se você pudesse dar um único conselho aos responsáveis, qual seria?

HMF: Aconselho que os pais e as mães não sejam violentos e violentas com seus filhos e suas filhas e que estejam sempre dispostos e dispostas a ouvi-los e a ouvi-las. A escuta e, no meu entendimento, a melhor estratégia para prevenir e para usar como terapêutica.